quarta-feira, 18 de junho de 2014

Revolução Cultural e palavrões
Quem vê um filme brasileiro qualquer feito na década de 1950 ou de antes tem a nítida impressão da enorme mudança pela qual passou a nossa Sociedade. Foram mudanças na forma de vestir, de falar e de agir. Parece até que são dois países completamente diferentes tendo como a única característica comum a língua portuguesa. O que explica esta mudança tão radical? Foi a revolução cultural. Esta foi feita de forma lenta para alguém que vive hoje, mas na cronologia da história humana, sua velocidade foi consideravelmente alta! Com efeito, praticamente não há muita diferença entre um brasileiro do início da década em que o Brasil se tornou o “país do futebol”, com um conterrâneo de 200 ou até 300 anos atrás! O povo era na sua maioria, analfabeto, pobre, sem automóvel, morador da zona rural em casas precárias, com pouca expectativa de vida e era católico. Se o povo era feliz daquele jeito ou não, isto é discutível e uma polêmica desta deve antes de qualquer coisa levar em consideração o conceito abstrato de felicidade. Mas o que mais chama a atenção de quem vê a  fita antiga é a forma de falar daquelas pessoas. As conversas eram de certa forma bem polidas e não há palavrões em nenhuma circunstância. Nem na hora de exclamar, nem quando se pragueja. Quando era para desprezar alguém, nunca havia a frase imperativa com palavra chula. Poderia haver outras, mas palavrões eram inconcebíveis! Parece que tal situação perdurou no cinema brasileiro até os anos 1960.
Veio então o regime militar e junto com ele a repressão e a censura, tal como a conhecemos ou tivemos notícia. Tal regime foi notório por reprimir manifestações culturais consideradas “subversivas” em músicas, peças teatrais, livros, filmes e telenovelas. Quem era artista deve ter passado uns bons bocados ao ver frustradas suas obras com a censura da polícia federal! Apesar disto, foi justamente no regime militar que começaram a aparecer as manifestações mais “pesadas” na nossa cultura. Parece que o “espírito de maio de 1968” chegou para ficar aqui na Terra de Santa Cruz. O lema “é proibido proibir” invadiu de forma plena nossas produções artísticas, de modo que estas se tornaram uma forma de rebeldia contra a ditadura. Assim surgiram os filmes de pornochanchada, a músicas insinuantes, a literatura moderna que era carregada de conteúdo erótico e enfim as novelas. Parecia que as podas da censura só faziam crescer mais e mais a revolta e as tentativas de libertação de um sistema que parecia caduco e cada vez mais falido.

Entramos nos anos 1980 com a abertura política e o fim do regime militar. O Brasil dava uma impressão que estava explodindo em matéria de liberdade. Não havia praticamente barreira alguma que impedisse as pessoas de conseguirem o que queriam em matéria de cultura ou contracultura. As manifestações artísticas chegaram a um ponto que foi preciso o estabelecimento de um “código de ética” da própria mídia para moderar a linguagem e a apresentação do que era transmitido às pessoas. As músicas que vieram depois apelavam para o que havia de mais baixo e a linguagem vulgar era tida como “espontaneidades”! Assim chegamos ao país atual em que a maior representante da nação é injuriada num estádio em que se disputa uma partida de futebol. É interessante notar que as pessoas que ali gritavam tinham a certeza que poderiam fazer aquilo porque não seriam punidas nunca. Assim é o Brasil! Se um ladrão entra na sua casa, ele é um criminoso, mas se entra uma centena de pessoas, estas formam um “movimento social”!