sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Reflexões sobre a goiabeira
Se existe uma história infantil que eu aprecio é a do “Patinho feio”. Gosto de ver como um nobre nascido em ambiente hostil dá a volta por cima e depois se sai o vencedor. Acredito que este conto se repete muitas vezes na sociedade humana e na natureza animal e vegetal. Assim, seres que nascem pequeninos, muitas vezes se tornam imensos e acabam por dominar o ambiente em que está, se tornando assim, os “donos do pedaço”. Isto acontece com uma planta muito comum neste país tropical, abençoado por Deus. Falo da goiabeira, uma árvore frequente em muitos quintais, lotes vagos, pastagens e áreas antrópicas. Muitos autores não a consideram nativa do Brasil, mas como muitas outras espécies vegetais, ela acabou se naturalizando por aqui e é difícil imaginar nossa pátria sem o pé de goiaba. Muitas crianças, imitando nossos parentes símios iniciaram seu retorno às arvores numa goiabeira. Ela faz parte da infância, adolescência e juventude de muitas pessoas, que subiram nos seus galhos à procura de seus frutos amarelos por fora e vermelho/branco por dentro.
Eu penso que um ser humano que nunca subiu numa árvore, desconhece de fato o que é a liberdade. Isto porque ser livre é ter o direito de fazer o que é agradável e saudável. Assim buscar uma fruta que é doce, rica em vitamina C, que está no alto de uma árvore próxima, é na verdade uma procura por um prêmio que pode ser singelo, mas tem algo de sublime. Principalmente quando a goiabeira está no nosso quintal e a pessoa que sobe é um filho, ou uma pessoa que inicia seu aprendizado e que temos por ela o nosso melhor apreço. É claro que devemos observar as regras de segurança. Subir em árvores pode ser perigoso para um inexperiente e pode ter más consequências. Mas se não tiver perigo, por que não o fazer? Percebo hoje em dia que as pessoas estão muito preocupadas mais em sobreviver do que apreciar as coisas boas da vida. Parece que nascem para ganhar dinheiro e se divertirem no final de semana. E as outras coisas que são inerentes a esta vida, são apenas “algo que tem que ser feito” e pronto! Não sabem, por exemplo, apreciar um belo entardecer, porque esta é hora de ir para casa num trânsito caótico. Não têm mais contato com o vendedor de alimentos, porque este está num gabinete de supermercado com um telefone no ouvido a fechar mais negócios. Não conversam mais com os vizinhos porque precisam ver a TV, para se inteirar dos assuntos diários ou para desanuviar o estresse adquirido no dia a dia!

Ah! Como seria bom se as casas tivessem quintais maiores para ter goiabeiras e quiçá, outros pés de frutas, como mangueiras, abacateiros, jabuticabeiras, etc. Acredito que a qualidade de vida seria bem melhor e as pessoas seriam mais humanas e não mecanizadas como estão hoje. Vivemos como peças de uma engrenagem chamada Sociedade. Temos que funcionar, produzir e mostrar serviço, sob pena de sermos excluídos. E o espaço para poetas, artistas e apreciadores da Criação está cada vez mais reduzido. Quando o último destes morrer, com certeza teremos a certeza que a humanidade acabou! Seremos todos uma imensa máquina globalizada!

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Indisciplina e aprendizagem
Percebo que um dos maiores vícios que as pessoas têm é a intemperança. Muitas vezes elas vão de um extremo a outro. Assim, uns bebem em demasia bebidas alcoólicas enquanto outras acham que só tomar um fino licor é um mal em si. Não há, portanto, um “meio termo” onde se situa a virtude. Na nossa história eu vejo a mesma coisa. Passamos por um período de um regime militar, onde só de cantar uma música, com certas palavras, muitas vezes inocentes, já era motivo para a ação da censura, ou até mesmo a prisão do autor e ou então do cantor! Eu me lembro bem que na escola onde estudei, a autoridade era algo como que sagrado. Se um diretor entrava na sala, todos imediatamente se levantavam e o saudavam. Um ato de indisciplina leve, como por exemplo, espirrar de forma escandalosa, era punido imediatamente com uma repreensão ou expulsão da sala de aula. Daquela forma, uma aula poderia correr de forma tranquila para o professor e para os estudantes que queriam de fato aprender algo. Porque a punição era somente para quem não desejava estudar e somente bagunçar a classe.
Quanta diferença em comparação com os nossos dias! Parecem dois mundos! Um da autoridade que impunha respeito e o outro onde “a imaginação tomou o poder”! Podemos então verificar que saímos de um período de repressão para uma total liberação. Ficou assim, proibido proibir qualquer coisa que reprima os instintos, por mais baixos que eles sejam, ou  piores as consequências que advenham deles! E a escola atual, como é que ficou? Para responder esta pergunta, basta perguntar numa sala de cursinho de vestibular, quem ali quer ser um professor da educação básica! Se de uma centena, alguns poucos querem ser mártires, serão muitos! Isto porque a profissão de educador se tornou pouquíssimo atraente, não só por causa dos baixos salários, mas principalmente por causa das precárias condições da educação! Não falo aqui da infra-estrutura de apoio didático, como salas com recursos multimídia, laboratórios, ou material de reprografia. Felizmente, dá para ver que muitas escolas já têm o essencial, que é a lousa, as carteiras, o giz e as instalações elétricas e hidráulicas. Sem estes elementos mínimos, a escola não pode ser! Mas o principal de tudo é o professor! É ele quem vai determinar a aprendizagem e a disciplina. Isto porque estas duas andam sempre juntas. Não é possível dissociar uma da outra. Então, o que é preciso para um professor e por consequência a escola se adaptar à nova realidade em que vivemos? Primeiro, o mestre deve ter de forma satisfatória o domínio de sua matéria. Se por acaso um aluno qualquer percebe que o docente vacila no conteúdo, a ameaça de implantação do caos está feita! Para isto então, o professor deve planejar bem a sua aula e a forma de explanação da mesma para evitar o desastre. Segundo, as possíveis formas de manifestação de indisciplina devem ser evitadas com paciência. Então, para uma boa aula, é preciso ter virtude! Mau humor, rancor, impaciência e qualquer tipo de rabugice, são absolutamente indesejáveis num professor que  quer passar segurança no que ensina. Desta forma, se um aluno, por exemplo, resolve cantar ou assobiar no meio de uma explicação, que seja ouvido até se calar. Ele com certeza faz isto para testar o limite do docente. Se o professor não perder a pose, ele será o vitorioso nesta pequena batalha!

A Educação deve ser um trabalho coletivo! Eu vejo, por exemplo, uma manada de elefantes que sempre ajudam um filhote que tem dificuldades, para seguir em frente. Sabemos que aqueles animais são bem espertos e têm boa memória. Então porque não aprender com eles? Se não queremos uma geração de pessoas sem cultura e uma escola falida, devemos por nossas mãos à obra e nossos espíritos em guarda para lutar e vencer esta guerra a favor de quem mais precisa: nossas crianças e jovens.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Arborização urbana

Passamos por um veranico considerável neste início de ano. Boa parte do Brasil sofre com falta de chuvas e na nossa região, a situação é mais crítica ainda com o calorão. De fato, os termômetros acusam temperaturas de pouco mais de 30 graus centígrados, mas a sensação térmica para quem está no Centro na hora do almoço chega aos 40° C. Isto acontece principalmente pela falta de sombra. A parte mais velha de Montes Claros é praticamente destituída de árvores e isto dá um grande desconforto. Podemos constatar o mesmo em muitos bairros da cidade. Parece que ainda vigora o antigo jargão em que se considera “árvore como mato” e que “progresso é sinônimo de desmatamento”. Assim, uma certa antipatia pelo verde, faz com que as áreas residenciais fique apenas um lugar para dormir ou para assistir televisão. Quem quiser “ver mato” tem então que ir a um sítio ou à uma fazenda. A Organização Mundial de Saúde recomenda que cada cidade tenha, no mínimo, 12 m² de área verde para cada habitante. Desta forma, podemos constatar que Montes Claros está muito aquém do desejado. Seguimos assim, com um calor desconfortável e com riscos à saúde. É sabido, por exemplo, que andar debaixo do Sol quente no início da tarde pode trazer complicações cardiovasculares.
Se não podemos vencer o calor, podemos pelo menos tentar amenizar seus efeitos. A solução para uma cidade como a nossa parece estar na parceria da prefeitura com os moradores e as empresas privadas, com o plantio de árvores. Mas vejam bem! Não é só plantar “a torto e a direito” por aí, é que vai resolver todos os problemas da cidade. As vezes, ao plantar uma determinada espécie vegetal, podemos é causar mais problemas que soluções. É o caso da figueira benjamina (Ficus benjamina), que eu vejo em muitas calçadas por onde passo. Estas árvores possuem raízes pivotantes que se espalham por uma grande área e assim causam danos consideráveis nas construções. Já ouvi dizer que a planta de crescimento rápido, “no primeiro ano dá um boa sombra, mas no segundo derruba o seu muro e no ano seguinte, deita abaixo a sua casa”! Tem também o problema das redes de fiação elétrica, que sempre estão em desarmonia com as árvores dos passeios. È preciso então saber escolher a espécie a ser plantada, afim de dar uma boa sombra, um ambiente agradável e para não se arrepender posteriormente. Uma árvore que eu saiba que atende bem estes requisitos, é a murta-de-cheiro (Murraya paniculata) , que além de fornecer uma boa sombra e bom tamanho, dá um agradável perfume de jasmim.
Mas como eu disse, a arborização da cidade tem que passar antes por um processo de conscientização das pessoas da necessidade de ter isto nas ruas. È preciso também a participação dos órgão públicos para estimular o plantio e a manutenção das árvores, à semelhança dos incentivos fiscais, que são dados aos moradores e proprietários de terrenos que constroem muros e fazem as calçadas. Já existem até cidades que têm RPPNs (reserva particular de patrimônio natural) urbanas, ou seja, áreas em que nunca mais serão construídas nada nela. Pode parecer uma loucura, mas é a meu ver, um ato de coragem em defesa da preservação ambiental e por uma melhor qualidade de vida. Tudo o que fazemos contra a Natureza, mais cedo ou mais tarde terá o seu retorno. Assim, o que fazemos de bem para ela, terá também a sua recompensa.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Função social das riquezas

Nada acontece por acaso. Assim, não é à toa que eu escrevo este artigo e o leitor o está a ler. Se eu pude comprar este jornal é porque eu tenho dinheiro, que foi ganho de algum modo. Isto é o óbvio. Então se tenho dinheiro, ou alguma riqueza é porque ela tem uma finalidade, que com certeza deve fazer algum bem, caso contrário, seria melhor que ela não existisse! Desta forma, posso dizer que tudo que há no Universo tem alguma função. Assim é com as riquezas materiais. Afinal, para que existem ricos e porque existem pobres? Seria bom se todos, os homens, que são iguais por natureza, não o fossem também pelos seus bens? Na primeira vista sim. Não é nada agradável ver casas imensas e de alto luxo, nos bairros nobres, sabendo que existem muitas pessoas em situação de extrema miséria, que são esquecidas por aquelas que têm riquezas. Na Sociedade atual, em que se fala tanto de igualdade social, chega a ser um escândalo existir gente que está sem uma vida digna! E o pior, é que várias pessoas que têm seus bens, muitas vezes os conseguiram de forma ilícita! Aqui eu me refiro à corrupção dos políticos desonestos; à sonegação de impostos por certos comerciantes; ao roubo e a maracutaia de “espertinhos”, que acreditam que nunca serão punidos de fato. Assim, quando estes que foram mencionados têm algo, acham que suas riquezas são por si um fim e não um meio, que deve lhe proporcionar a finalidade real, que é a sua plena felicidade verdadeira.
Muitas vezes, os tais ricos, que adquiriram suas riquezas de forma errada, parecem andar de forma antissocial. Um estudo da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos descobriu que certos indivíduos das classes mais altas são menos capazes de detectar e responder a sinais de problemas alheios. Isto faz lembrar o famoso “Tio Patinhas” de Walt Disney, que é um estereótipo de um ricaço avarento e insensível. O personagem foi baseado na história  “Um Conto de Natal” de Charles Dickens de 1843. Frequentemente, no dia a dia, podemos ver coisas que nos fazem pensar que o escritor inglês devia ter suas razões ao escrever o conto. Podemos perceber isto no trânsito, por exemplo, em que carros luxuosos não param na faixa de pedestre, ou com algum parente rico, que nega ajuda a quem necessita. É claro que não quero generalizar e dizer que “ser rico é ser mau”, mas apenas desejo expressar meu pensamento, coisa que só posso fazer numa democracia.

Não é errado ter riquezas. Assim como não é incorreto trabalhar e economizar o seu ganho, para comprar algo que agrade. A propriedade nada mais é que o salário acumulado, como definiu Leão XIII na sua encíclica Rerum Novarum. Assim, se alguém tem algo, é para que usufrua deste algo, com a certeza que ele não é o fim, mas apenas um meio, que deve ser usado em consideração ao bem comum de toda a humanidade. Isto é o que chamamos de fim social da propriedade: nada é só de alguém. Tudo pertence, em última análise, a todos, porque vivemos em sociedade. As coisas que temos, estão somente provisoriamente no nosso uso. Nenhum féretro tem gavetas.

sábado, 1 de fevereiro de 2014


Ecologia e a Religião


Ao ler livros de História, percebo que cada século que passa tem a sua marca característica. Assim o Século XX foi marcado por guerras violentíssimas que ceifaram muitas vidas. O Século XIX teve as revoluções que implantaram as primeiras repúblicas modernas. Dá para perceber que tanto no início quanto no fim de cada século há um período de transição que parece determinar o que vem e o que ficou para trás. Assim, as proclamações de repúblicas iniciadas no século XIX continuam no início do século seguinte. Desta forma, podemos de algum modo, prever no início de cada século, certas coisas que podem acontecer no que resta deste. Então vem a pergunta: qual será a marca do Século XXI? A meu ver este nosso Século tem como característica principal uma preocupação altruísta de melhoras na Sociedade. E esta preocupação, a meu ver, se deve principalmente, à ação da mídia, que tem promovido uma campanha sistemática do bem, ao revelar as violações dos direitos humanos. E quando digo “direitos humanos”, eu refiro não só ao bem-estar da pessoa, mas de todo o ambiente em que ela vive. Isto porque não é possível separar o homem do local onde ele está. Assim, ao mostrar ao público as agressões ambientais e suas consequências, a imprensa presta um grande serviço à população, porque esta ficará consciente do seu dever, que deve ser exercido localmente e globalmente.


A religião dá a forma de nortear o pensamento e as atitudes de uma pessoa. Podemos dizer, parafraseando Aristóteles, que o homem é um ser religioso. Assim as atitudes de uma pessoa, com base na religião deve ter uma dimensão ambiental. E esta preocupação ambiental deve se basear, antes de tudo na caridade para com os outros. Por isso não convém, por exemplo, queimar pneus em áreas habitadas, jogar o lixo na rua, poluir os rios e extinguir as espécies. A Bíblia fala, por exemplo, do amor que devemos ter para com os seres vivos: “Se encontrares no caminho, sobre uma árvore ou na terra, o ninho de uma ave, e a mãe posta sobre os filhotes ou sobre os ovos, não a apanharás com os filhotes. Deixarás partir a mãe e só tomarás os filhotes, para que se prolonguem os teus dias felizes.” (Deut. 22,6). Seguindo este pensamento, a Igreja tem feito várias ações de conscientização das pessoas com suas Campanhas da Fraternidade, realizadas na época da Quaresma. Assim em 1979, a campanha teve como lema “Preserve o que é de todos”, que se dedicou a denunciar os abusos que vinha sofrendo a Natureza devido à inúmeras agressões por parte do sistema. Tem-se dito que a próxima encíclica do Papa Francisco terá como tema a Ecologia. O tema com certeza é pertinente e fornecerá subsídios para mostrar a Sociedade o caminho para onde ela deve ir.


Desta maneira, há a esperança que o Século XXI seja marcado por uma reviravolta a favor do ambiente e de todo o planeta Terra. Este nosso astro tem sido modificado de forma significativa na Idade Contemporânea pelo homem de forma preocupante. Por causa disto, surgem por toda parte palpites que produzem inquietações e que, muitas vezes no final das contas, se revelam como meras cogitações sem bases científicas. Esperamos, portanto, que a Religião contribua para que seja feita a paz e que o ambiente seja preservado. A humanidade agradece!