terça-feira, 20 de setembro de 2011

O “direito dos animais”


Li numa revista de grande tiragem a respeito dos “direitos dos animais”. Fiquei pensando no meu querido cão que fica em minha casa enquanto estou fora. Pensei comigo: se os animais têm direito, será que meu cão tem direito à liberdade? Seria injusto, portanto que eu o prenda para que não escape para a rua e assim faça algo que me desagrade? Um prato meu favorito é frango assado. Será que sou um violador dos direitos à vida dos frangos ao comer a sua carne? Na minha casa costumo fazer limpeza todas as semanas. Sempre limpo a paredes e tiro as teias de aranha que podem dar um aspecto de desleixo e abandono ao meu lar. Estaria eu violando o direito de propriedade das aranhas que acabam por perder as suas casas?
     Onde é que nós estamos? Afinal, os animais têm direitos ou não? Como é que deve ser o nosso relacionamento com os outros seres vivos? Devemos tratá-los com desprezo e maltratá-los, uma vez que não tem direito algum? Seria lícito para nós, “animais racionais”, perseguir uma espécie animal até a sua extinção? Seria bom para o bem comum da humanidade o desaparecimento de uma espécie? A nossa história já está cheia de exemplo de destruição ambiental. Foram inúmeras as espécies extintas pelo homem, seja por caça indiscriminada, indiretamente através da destruição do habitat, ou pela introdução de outras exóticas que acabaram por competir com as nativas, o  que as levou à extinção.
     Quando Deus criou o homem, Ele ordenou que este dominasse sobre a natureza. Foi como mandasse um jardineiro cultivar um jardim para que este florisse e desse frutos. As obras dos homens, quando são bem feitas, e tendem à elevação da alma, são consideradas “netas de Deus”. Pois se Deus fez tudo, o homem ao moldar a natureza, segundo um bom espírito, está também contribuindo para a glória de Deus.
     Porém, isto não significa que nós devemos usar de uma espécie, ou de várias, até a extinção. Somos seres racionais. Em nosso corpo temos nossa alma, que é capaz de amar e desejar o que é correto. Se agimos sem razão e destruímos discriminadamente as criaturas de Deus, como está a bondade nossos corações? Há uma passagem na Bíblia que diz:” Se encontrares no caminho, sobre uma árvore ou na terra, o ninho de uma ave, e a mãe posta sobre os filhotes ou sobre os ovos, não a apanharás com os filhotes. Deixarás partir a mãe e só tomarás os filhotes, para que se prolonguem os teus dias felizes.” (Deut. 22,6)
     Portanto, não é que os animais tenham direito. Nós é que devemos ter o bom senso e agir de acordo como Deus manda. Usar das criaturas sim. Mas com respeito e lembrando sempre que nós prestaremos conta do uso delas. Extinguir uma espécie pode significar uma glória a menos a Deus. 
São Tomás de Aquino nos explica de modo esplêndido, o valor da diversidade das espécies no Universo: “Nos seres naturais vemos que as espécies são gradativamente ordenadas: assim, os compostos são mais perfeitos do que os elementos, as plantas do que os minerais, os animais do que as plantas e os homens do que os outros animais; e em cada uma dessas classes encontram-se espécies mais perfeitas do que as outras. Sendo, pois, a Divina Sabedoria a causa da distinção das coisas para a perfeição do Universo, também será causa da sua desigualdade. Pois não seria perfeito o Universo se nas coisas só se encontrasse um grau de bonda­de’
De fato, não seria condizente com a perfeição de Deus criar um só ser. Pois nenhum ser criado, por excelente que se o imagine, teria condições de, por si só, refletir adequadamente as infinitas per­feições de Deus.
Assim, as criaturas são necessariamente múlti­plas. E não apenas múltiplas, mas também neces­sariamente desiguais. E esta a doutrina do Santo Doutor:
“Haver muitos bens finitos é melhor do que haver um só, pois eles teriam o que tem este, e ainda mais. Ora, é finita a bondade de qualquer criatura, pois é deficitária da infinita bondade de Deus. Logo é mais perfeito o Universo havendo muitas criaturas, do que se houvesse um único grau delas. Ao sumo Bem toca fazer o que é melhor. Logo, era-Lhe conveniente fazer muitos graus de criaturas.
“Além disso, a bondade da espécie excede a do indivíduo, como formal excede o material; logo, mais acrescenta à bondade do Universo a multipli­cidade das espécies, do que a dos indivíduos de uma mesma espécie. Por isso, para a perfeição do Universo contribui não só haver muitos indivíduos, mas haver diferentes espécies e, por conseguinte. diferentes graus de coisas.
As desigualdades não são, pois, defeitos da Criação. São qualidades excelentes dela, nas quais se espelha a infinita e adorável perfeição do seu Autor. E Deus compraz-se contemplando-as: “A diversidade e a desigualdade das criaturas não procede do acaso, nem da diversidade da matéria, nem da intervenção de algumas causas ou méritos, mas procede da própria intenção de Deus, que quis dar à criatura a perfeição que lhe era possível ter. Daí dizer-se no Gênesis: ‘Viu Deus tudo o que tinha feito, e era excelente’ (Gen. 1, 31)”.
    E então, o homem é o “rei da criação”? Claro que é! Mas assim como um bom rei deve ser o “pai de todos os súditos”, assim devemos ser com as outras criaturas. Sermos bons para elas. Sabermos respeitá-las e amá-las, como Deus as ama. Afinal, Deus ama a todos e a tudo.

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