quinta-feira, 13 de julho de 2017

FSSPX, fator de confusão, divisão, escândalo e pecados II

Marcel Lefebvre e o Concílio: assinou os documentos e até falava bem dos frutos, depois negou ter apoiado e passou a criticar

Acima se vê a a capa da Revista 30 Days com a página que contém as cartas que citamos.

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Objeção 2: D. Marcel foi o bastião contra o Concílio Vaticano II junto com D. Castro Mayer
 
Seu discernimento dos espíritos em relação ao Concílio

Em relação ao Concílio Vaticano II, a conversa com Jean Ousset, fundador da Cité Catholique, é bem esclarecedora:

“-Tenho uma grande notícia para lhe dar (...) Vai haver um concílio !
-Lamento não partilhar o seu entusiasmo, Monsenhor. Em minha opinião, não é uma boa notícia !
-Mas por quê ? Meu caro Ousset, este concílio vai ser o concílio da Cité Catholique !
-Monsenhor, quando o reino vacila não se convocam os Estados gerais !” [1]

Como ocultou (ou mentiu) vergonhosamente o seu apoio aos documentos do Concílio, incluso o da liberdade religiosa e a Gaudium et Spes que ele condenou posteriormente

Com a permissão da Santa Sé, o padre Louis-Marie de Blignieres, ex-membro da SSPX, publica na sua revista [2] uma reprodução fotográfica da página original dos arquivos do Vaticano com a assinatura de Lefebvre próximo da parte inferior, e o título Declaratio de Libertate Religiosa, Gaudium et Spes e mais outros dois documentos no topo.

No mês seguinte de janeiro aparece uma entrevista de Lefebvre considerando a afirmação do Pe. de Blignieres absurda e [3] insistindo que a página publicada mostrando sua assinatura era meramente uma “folha larga (...) passada de mão em mão entre os Padres do Concílio (...) na qual todos colocavam sua assinatura”, ela “não tinha intenção de voto contra ou a favor, mas significava nossa presença para votar nos quatro documentos” , “a aprovação ou recusa dos documentos era obviamente feita para cada documento separadamente, o voto era em segredo, feito em cartões individuais, e feito com um lápis especial, que permitia o cálculo eletrônico dos votos”.

O que aconteceu, segundo o Rev.Brian W. Harrison foi que “depois da votação individual em todos esses quatro documentos, eles foram promulgados juntos e assinados juntos, pelo Papa e mais de 2000 padres conciliares. As muitas páginas necessárias para todas as assinaturas tinha o título de todos os quatro documentos (...). São nessas páginas que as assinaturas do Arcebispo Lefebvre e o Bispo de Castro Mayer são encontradas, e não só na relativamente desimportante folha de presença que Lefebvre lembrou na entrevista”. “O fato que todos os quatro documentos foram assinados juntos não significava que eles eram obrigados a concordar com tudo ou nada. Os padres foram informados que se eles quisessem assinar um ou mais documentos, mas não todos, eles poderiam fazer uma anotação na margem do lado do nome deles, especificando quais documentos eles queriam ou não assinar. Não foi encontrada nenhuma anotação do lado do nome desses dois Bispos (...), os títulos no topo dessas páginas (Decretum, Declaratio, etc.) nunca eram usados para rascunhos anteriores, ou lista de votos, etc., somente para o texto final, aprovado pelo Papa. De fato, quem fizer uma pesquisa na Acta Synodalia do Concílio como eu fiz, sabe que isso é verdade.”

Provava isso o fato que na linha embaixo da assinatura de Lefebvre, na sua caligrafia, estava "a expressão 'Ego procurator pro (...) Augustinus Grimault'. Arcebispo Lefebvre assinava também o documento final por procuração, no nome de um amigo ausente, o Bispo Auguste Grimault, prova positiva que essas fotocópias de assinaturas não eram de quem estava presente para a votação. De fato, o concílio proibia qualquer votação por procuração ou delegação: era só permitida a assinatura por procuração no documento final e oficial depois do Papa ter aprovado e assinado (veja A.S. Vol.III, part VIII, p.184).”

Ainda adiciona o Reverendo o testemunho dado em carta do Monsenhor Vincenzo Carbone, por muitos anos responsável pelos arquivos do Vaticano II. A carta, datada de 17 de Janeiro de 1991, afirma: “é um indisputável fato histórico que [Lefebvre e Castro Mayer] assinaram o texto final da Declaração da Liberdade Religiosa, oficialmente promulgado. As assinaturas deles (seguindo a do Papa) foram publicadas tão tarde quanto 1978, nos arquivos completos da Acta Synodalia do Concílio (Vol. IV. Part VII, pp.809, 823)”. [4]

A história levou no final o bispo lefebvrista Tissier de Mallerais a reconhecer, e ao mesmo tempo tentar abafar a situação: “a adesão de Mons. Lefebvre e de Mons. Castro Mayer ficou oficialmente registrada nas Acta do Concílio. Se, posteriormente, Mons. Lefebvre afirmou várias vezes não ter assinado a liberdade religiosa nem a Gaudium et Spes, fê-lo impelido pela lógica da sua anterior e posterior oposição à promulgação da liberdade religiosa, enganado pela sua memória ou por algum erro. (...) Contudo, o fato de o arcebispo ter assinado a Dignitatis Humanae em nada obsta, em nossa opinião, ao valor da sua batalha contra a liberdade religiosa” [5]

Os Lefebvristas seguem esse espírito do fundador

Isto é evidenciado pelo próprio Rev.Harrison, pois seguindo as inúmeras negações do Bispo francês a “ a SSPX, que considerou a importância da notícia, negou veementemente sua verdade no The Angelus, uma publicação americana da Sociedade, e no seu primo Australiano, um jornal mensal chamado Catholic.”, sem contar a afronta do diretor de Catholic que publicou o comentário “Bem, deixe o Pe. Harrison acreditar em seus burocratas. Eu prefiro acreditar no mais fiel, corajosamente bem centrado e perseguido arcebispo na Igreja atualmente”.[6]

Apesar do Bispo Tissier ainda hoje há muitos lefebvristas que não conhecem essa história, seja por influência desses mesmos meios mediante omissão, ou mentira ou ignorância invencível de quem quer considerar Marcel Lefebvre infalível, algo, como visto, muito longe da verdade. Um dessas biografias que circulam com a suposta resistência de Lefebvre é a de Michael Davies que se refere ao Gaudium et Spes assim: “difícil de acreditar como qualquer Bispo respeitável poderia colocar sua assinatura nele”. [7]

Mente confusa sobre o Concílio: continuidade, graça ou revolução ?

O Concílio precisa ser aceito à luz da tradição. Seria a hermenêutica da continuidade ?
 
O conteúdo das seguintes cartas (imagem acima tirada do site TIA) lembram muito a hermenêutica da reforma na continuidade.
“Seminário Internacional São Pio X, 8 de Março de 1980,
Santo Padre,
(...) temendo que essas dúvidas alcancem Sua Santidade, permita-me afirmar o que eu sempre disse:
(...) 2.Que eu concordo totalmente com o julgamento de Sua Santidade sobre o Concílio Vaticano II feita em 6 de novembro de 1978, na reunião do sagrado congregação: “Que o concílio precisa ser entendido à luz da Santa Tradição e em base do magistério constante da Santa Igreja” (...) Que Sua Santidade aceite meus sentimentos de profundo e filial respeito em Jesus e Maria, Marcel Lefebvre.”
Uma segunda carta escrita ao prefeito da congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Seper, reafirma a posição:
“Econe, 4 de Abril de 1981,
Eminência,
(...)2. Eu afirmo de novo que em relação ao Concílio eu subscrevo à frase do Santo Padre que coloca que uma pessoa deve aceita-lo “à luz da tradição e do magistério constante da Igreja”. [8]

O Concílio recebeu graças particulares para suscitar reformas que visam conduzir à santificação

Escreve o historiador Roberto de Mattei que segundo Lefebvre, o Concílio havia recebido graças particulares "para suscitar na Igreja reformas e ajustamentos, que não têm outro escopo senão conduzir a uma mais perfeita santificação e fazer reviver de novo o mais puro espírito evangélico" [9]

O Concílio foi o 1789 na Igreja

“Mas se deixamos a Deus e aos futuros verdadeiros sucessores de Pedro julgar estas coisas, não deixa de ser certo que o Concílio foi desviado de seu fim por um grupo de conjurados e que nos é impossível entrar nesta conjuração, ainda que houvesse muitos textos satisfatórios neste Concílio. Pois os bons textos serviram para fazer aceitar os textos equívocos, minados, com armadilhas.
Resta-nos uma só solução: abandonar estas testemunhas perigosas para aferrar-nos firmemente à Tradição, ou seja, ao Magistério oficial da Igreja durante vinte séculos. (...) O Cardeal Suenens ao afirmar que o Concílio foi o “1789” na Igreja não se equivocou! ” [10]

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Fonte:
[1] Citada por Roberto de Mattei, O Concílio Vaticano II, Ed. Caminhos Romanos, pg.106.
[2] Sedes Sapientiae, Inverno 1990 [3] The Angelus, Janeiro 1991. A entrevista foi feita de novembro de 1990
[4] Harrison, Brian W. (March 1994). "Marcel Lefebvre: Signatory to Dignitatis Humanae". Fidelity Magazine. ISSN 0730-0271 
[5] Mons. Marcel Lefebvre. Una vita, tr. It Tabula Fati, Chieti, 2005 pp. 359-360, pp.357-360 
[6] Op.cit. .Isto revela o grau de apego maior aos homens do que à verdade por parte destes tradicionalistas.  
[7] Apologia Pro Lefebvre, Apêndice IV 
[8] Revista 30 Days, em Julho-Agosto de 1988, página 16.
[9] Mons. M. LEFÈBVRE, "Lettres pastorales et écrits", Fideliter, Escurolles, 1989, p. 217. Citado em Roberto de Mattei, O Cruzado do Século XX, Cap. VI, 12. Explode a crise pós-conciliar.
[10] Mons. Marcel Lefebvre, J’accuse le Concile, 19


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